Quando cheguei aqui na praia arrumei minhas coisas e pensei "tenho quinze dias para ficar aqui", depois que coloquei tudo no guarda roupa sentei na cama e a primeira sensação que tive foi "O que eu estou fazendo aqui?" me sentindo deslocada a minha vontade era de ficar a vida inteira deitada assistindo a vida passar. Me sinto um tormento, quero levar a vida de um jeito mais leve, sem tantas cobranças, sem tanta pressão, mas ao mesmo tempo qualquer opinião alheia é levada em conta e pesa mais um tijolinho na mala que carrego desta vida de tantas implosões que fui tendo durante todo o processo de criação de identidade.
Depois de muito custo tomei coragem para tomar um banho e levantei da cama, conversei com todos, falei OI e fui tomar meu café. Meu pais não estavam, tinham me chamado para dar uma volta na praia, mas não quis ir. Meus irmãos, amigos e primos também saíram e eu preferi no meu cantinho ficar... Pensei em algo que poderia me animar no meio de tantas coisas pensei em cuidar de mim "Vou fazer unha, depilação, me arrumar e me sentir mais bonita". Fui e fiz tudo que tinha que fazer, mão, pé, até passei uma cor mais vibrante para equilibrar com a frieza que estavam os meus ânimos. Assim que cheguei do cabeleireiro a primeira frase que escutei foi "E esse seu cabelo ruim ai? Ta todo quebrado vai ficar assim mesmo" e eu um tio meu para completar terminou o comentário "Parece de empregada sabe? Daqueles que acabou de limpar o banheiro." Juro que eu não queria me importar e talvez em outro momento não me importaria, mas porque me machucou tanto? Cortei o meu cabelo com o objetivo de mudar o visual, de me sentir mais bonita, me sentir melhor, mas não foi isso que aconteceu.
Quando as pessoas me veem pensam que tenho cara de comida porque é só isso que me oferecem, já não me sinto bem com as roupas que visto, com o cabelo que cortei e com a falta de energia boa que não passo por falta de ter. O desejo é ser feliz independente do que o outro pense, ser feliz por ter certeza do que sou e do que nasci para ser, quero descobrir o que me faz sorrir sem motivo, mas sabendo que esta felicidade vem de dentro e não de momentos.
Busco a aprovação do mundo para ser aquilo que os outros esperam que eu seja, e tenho vontade de fugir dele quando vejo o quanto suas opiniões me perseguem e me atingem. Busco ser o que sou, sorrir por motivos tolos e que não sorrio hoje. Quero encontrar o meu lugar no mundo.
Os planos para um mundo melhor, uma nova conquista, um espaço para ser, viver, crescer é tão precioso e tão perigoso nos dias que nos rodeiam de mensagens sobre o que DEVO ser, vestir, sorrir, amar, desejar. Quero andar em mundo de fantasias e perfeição sendo exatamente quem os outros querem e gostariam que eu fosse e assim corro em círculos nunca satisfeita tentando preencher o espaço que jamais será preenchido com aprovações de fora e sim sorrisos e aceitações de dentro de mim, assim a imaginação fica mais pertinho da realidade e a aceitação mais pertinho da felicidade.