Passado algum tempo que descobri a anorexia o tratamento continua intenso e com muitas coisas ainda para descobrir. O fundamental pode até parecer assustador é quando percebemos que a nossa realidade não é vista da forma real e sim de maneira imaginária.
Temos o distúrbio de nosso imagem corporal (DIC) e nos vemos completamente diferentes do que somos, mas não apenas fisicamente, mas como seres humanos. Nos cobramos demais, exigimos uma perfeição inatingível para um ser humano, queremos tudo como deve ser (como imaginamos que deve ser) nos cobramos por não sermos aquilo que gostaríamos, mas esquecemos de ver que o que gostaríamos esta bem longe do que chamamos de realidade.
Sai da psiquiatra na quinta passada meio atordoada com tanta informação. Atordoada porque na atividade tive que me desenhar como me vejo no espelho, tanto de lado como de perfil e depois eu deitava em cima desta imagem e com uma canetinha ela ia contornando o meu verdadeiro corpo... a diferença era gritante, parecia um monstro perto do que sou, mas desta vez não tinha como me convencer que o desenho estava enganado, não tinha desculpas... Me deparei com a realidade e me perguntei. EU SOU ASSIM?
Sim, eu sou assim... E perdida em meio a tantas referências de mim mesmo desisti de tentar entender e simplesmente aceitei que o que vejo não chega perto daquilo que sou fisicamente. E a atividade foi comparar aquilo que eu quero ver com aquilo que sou.
Comecei através do lógico, uso roupas 34 e ninguém gordinha usaria este tamanho. Por mais que o espelho me mostre uma coisa a realidade me mostra outra. Pego minhas saias e coloco em cima das roupas da minha mãe. Vejo o tamanho da diferença e sei que minha mãe não é gorda e nem chega perto de ser... Portanto eu também não sou.
A cada dia busco novas situações dentro e fora de mim para entender como penso e como a vida realmente é. Encarar estes bichos papões da nossa personalidade não esta sendo fácil, mas creio que por mais que estivesse dançando e cantarolando antes de descobrir este distúrbio estava caminhando em sentido da morte, e o pior... sem saber o que estava acontecendo comigo na vida real, agora caminho contra isso, mesmo não cantando e nem cantarolando, muitas vezes me arrastando vejo os bichos que existe em mim e o medo vai indo embora junto com a descoberta e aceitação de mim mesmo.